domingo, 3 de janeiro de 2010
Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 - P31: Uma pequena história
Uma Pequena história:
Tinha acabado de chegar a Guiné, rendição individual, 300 homens fizeram a viagem no Ana Mafalda, seis dias para chegar a Guiné…
Por volta do dia 18 de Julho de 1968 avistámos a costa da Guiné, que se recortava no horizonte…
Os nossos olhos depararam com o mais belo cenário de luz e cor que alguma vez tinham visto.
Cerca das 17 horas estávamos ao largo de Bissau, aguardando ordens para atracar no cais. Através dos altifalantes do Ana Mafalda recebemos ordens para estar prontos para desembarcar!
Segunda ordem voltar para os nossos lugares…
O desembarque ficou para o próximo dia.
Terceira ordem desembarcar, cerca das 00h30min o que veio acontecer. No cais o movimento era de minuto para além de meia dúzia de polícias militares havia quatro viaturas militares cobertas, a maior parte dos homens foram encaminhados para essas viaturas, com destino ao depósito de adidos.
Onde nos aguardava dois (SARGENTOS), que nos mandaram formar rapidamente e com ordens bem precisas disseram:
-Os que eu chamar vão formando ali ao lado.
Todo este procedimento foi acompanhado por uma forte chuvada tropical…
No final da chamada feita por um dos sargentos, 50 homens estavam numa formatura a parte…
Estes homens partiam nesse mesmo dia as 9 horas com destinos diferentes…
Os restantes aguardavam colocação, passada uma semana recebi ordem para me apresentar no quartel de S. Domingos.
Na secretaria dos adidos recebi as guias de marcha, três rações de combate e a seguinte informação:
Devia estar no cais de Bissau ás 15 horas…
Como a tropa manda desenrascar tive que ir de boleia até Bissau e depois ir a pé até ao cais onde deparei-me com dezenas de Batelões e agora como saber qual aquele que ia para S. Domingos…
Não acreditam mas andei mais de quarenta minutos a tentar saber qual os batelões que iam para S. Domingos.
Já estava desesperado, quase a desistir e voltar para os adidos.
Quando me preparava para pegar os dois sacos e a mala que andaram sempre comigo, aconteceu um (MILAGRE) ou algo parecido avistei um jeep da Armada…
Vi sair do dito jeep três fuzileiros armados com uma Bazooka e dois de g3 e diverso material…
Dirigi-me a um deles e perguntei:
Se eles sabiam qual dos Batelões ia para S. Domingos? o que responderam foi que eles iam fazer a escolta aos ditos batelões.
Fiquei mais tranquilo já não estava só.
Decorridos 22 minutos chegou um jeep do exército com um primeiro-cabo da manutenção militar, era o responsável por a carga dos dois batelões que se destinavam ao quartel de S. Domingos.
As17 horas saíamos do cais com os dois batelões com tanta carga que só tinha trinta centímetros de fora de água.
Ainda iam vários civis com tudo o que era animais domésticos etc.
Foram duas noites e dois dias de medo constante até chegar ao Cacheu…
Aqui começa a história, uma vez que íamos passar ali a noite nos batelões e como tinha a tarde toda por minha conta resolvi ir conhecer o Cacheu.
Para quem conhece o Cacheu, havia uma rua que saía do cais em direcção ao centro.
Do lado esquerdo estava o quartel velho, em frente havia uma estátua, segundo creio era do Honório Barreto, em frente era o Mercado e as tabancas…
Para o lado direito havia uma estrada de terra batida, á direita ficava o rio e a esquerda era mato.
Do lado direito dessa estrada na margem do rio havia uma fortaleza fiquei por ali sentado a olhar a paisagem que era maravilhosa.
Mas havia algo mais além que me chamava atenção, era algo uniforme mas que eu não conseguia definir o que era…
E se pensei melhor o fiz, caminhei no sentido do dito objecto, logo vi que se tratava de uma viatura militar era toda de ferro e apresentava vestígios de ter sido queimada.
Fiquei por ali durante uns bons minutos…
E como já se estava a fazer tarde resolvi voltar aos batelões, sem antes passar por o quartel.
Qual não foi o meu espanto, quando vi na porta de armas um ajuntamento de soldados, que apontavam na minha direcção com curiosidade quando cheguei junto deles todos queriam falar ao mesmo tempo.
Para resumir em poucas palavras, eles perguntaram se eu sabia o que tinha acabado de fazer!
E eu respondi que não, e um deles disse nós para irmos até onde tu fostes tem de ir um pelotão e bem armado…
E um outro disse ainda por cima sem arma…
Um outro disse o In devia estar a dormir…
Conclusão tinha me afastado do cais, e do quartel uns quinhentos metros o que foi uma loucura ter feito o que fiz.
O tal carro de ferro que eu vi era uma (DAIMLÉR), que tinha accionado uma mina anti-carro seguida de uma emboscada, daí que aquele local indicava que a partir dali era preciso ter muito cuidado…
No dia seguinte saímos do Cacheu, para S. Domingos onde chegamos por volta das 16h apresentei-me na secretaria, da companhia 2539 onde entreguei as guias fui mandado apresentar ao Alf Mil Almeida comandante do Pel Caç Nat 60.
Era dia 27 de Julho de 68 foi o meu primeiro dia em S.Domingos. No dia 28 fiz o meu primeiro serviço e no dia 29 que era o dia dos meus anos foi a minha primeira saída para o mato.
Manuel Seleiro
Primeiro-cabo do Pel Caç Nat 60
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