(Pel Caç Nat 60 )

segunda-feira, 15 de março de 2010

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P64: Os morteiros Cantaram!




Mensagem do Plácido Teixeira da C. CAV 3365 S. Domingos 71/73.
Com data de hoje 15-03-2010:
A Viver nos Estados Unidos.

Boston,




OS MORTEIROS CANTARAM




Cantaram um dia em que todos nos andavamos despreocupados. Por sermos ainda novos na Guine, pensavamos que afinal os nossos amigos inimigos, nao queriam nada connosco.
Estavamos todos sentados, uns a beber umas cervejas mal frescas, outros a volta do pequeno radio a pilhas, a ouvir a Miss Portugal outros a ouvir o Rod Stewart a cantar Someoone like you.....
De repente, um grande estrondo.!!
A confusao foi total devido a falta de orientacao. A desorientacao foi incrivel para um lugar de perigo.
Uns corriam para a esquerda outros para a direita .Finalmente decidimos ir para o abrigo do morteiro, que era o mais perto mesmo por traz da cozinha.
Tal foi a desorganizacao, todos andavam a correr sem saber que que fazer e para onde ir..para se defender.
O capitao, arrogante , ignorante e sem qualidades de comandar, com muito ma atitude, deixou que todos estivessemos desorganizados, desprevenidos e descontrolados.. Alem de um fraco profissional, nunca teve inteligencia para organizar a defesa, antes que tivesse acontecido um ataque. Sei que nesse primeiro ataque, os Morteiros cantaram!! Nao posso compreender que defesa esses morteiros, possam ter dado, para alem do barulho que faziam! Sempre pensei que estavamos desprotegidos e entregues ao destino,afinal nao me enganei concerteza..Havia de certeza a mao de D.s por cima de todos nos. Nao havia valentia, havia coragem,odio, desespero e ate lagrimas.Havia o medo que se transformou em Fe! .Afinal nunca juramos pela Patria, nao se jura com a boca fechada , ou amordacada. Nao se jura pela Patria quando somos obrigados a fazer o que nao queremos Se havia falta de Liberdade de expressao, quando nos diziam para calar a boca, como podiamos nos jurar defender a pela Patria, quando afinal nos era-mos os invasores? Esperavam eles que fosse mos o Salvador da Patria quando fomos deitados ao abandono, enviados para o desterro como criminais? Nao nao e assim!Quando debaixo de ataques,vi pessoas agarradas as cruzes que tinham ao peito e pedir a D.s.!! Ouvi chamar pela mae e por Nossa Senhora!!

Infelizmente, tivemos a primeira vitima!.
Nao pelo fogo, este amigo morreu devido a desorganizacao e bandalheira .O Capitao, tinha a Companhia totalmente desorganizada a deriva como um barco sem destino.. O nosso amigo foi apanhado em lugar nao seguro e foi ferido. Para ser tratado depois do ataque, foi a enfermaria, Como os fios electricos tinham sido cortados pelos rebentamentos, ficou tudo escuro e o nosso amigo teve o azar de trepar nos fios electricos. Infelizmente nada se pode fazer. Podia ter sido qualquer um de nos!
Era Alentejano, boa pessoa e foi a nossa primeira vitima. Jamais esqueceremos.

Fotos © do Plácido Teixeira, 2010 direitos reservados:

Nota: M. Seleiro

O Plácido escreveu:
O morteiro estáva atráz do refeitório, em princípio esse morteiro foi colocado aí em Dezembro de 69 pelo pelotão de caçadores nativos 60...
Um abraço amigos

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1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo com as palavras do meu amigo e companheiro, Plácido Teixeira. Dadas as precárias condições de Defesa do Quartel, e o abandono a que fomos votados, não sei como não houve mais mortes e mais feridos, ou o Quartel de S. Domingos não foi tomado pelos Guerrilheiros do PAIGC. Eles não se viam mas sentiam-se ali bem perto, só faltava entrarem. Julgo que só não o fizeram por desconhecerem a situação precária em que operavamos e a desorganização do nosso Comando.
Apesar de eu não ser muito religioso, sou crente em Deus, e só tenho uma justificação para sermos os "sobreviventes de S. Domingos" a Intervenção Divina. Só a Mão de Deus pode evitar maior tragédia. Segundo consta, a C.CAV. 3365, foi a Companhia mais flagelada do Batalhão CAV.3846. Foram muitos feridos graves evacuados.
Entre os falecidos, de alguns já não recordo o nome, mas presto aqui a minha homenagem a todos, em particular a 3 amigos que jamais esquecerei.

soldado/Manuel António Moreira Carlos, natural de Alegrete-Portalegre, sepultado naquela localidade.

soldado/Miguel Luis Matos Cavaco, natural do Torrão-Alcácer do Sal - Sepultado em Montemor-o-Novo.

1º. Cabo/Marciano Inácio, natural de S. Marcos da Ataboeira-Castro Verde, sepultado naquela localidade.

Curvo-me perante a memória de todos aqueles amigos e companheiros que não tiveram a mesma sorte que nós.
Descansem em Paz Amigos!

Um abraço para todos os sobreviventes da C. Cav. 3365.

Um abraço para os amigos Plácido e Seleiro

Bernardino Parreira