(Pel Caç Nat 60 )

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P50: Não chamem cobardia!





Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Vamos senhor pensativo
olhe o cachimbo a apagar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Senhora de olhos cansados
porque a fatiga o tear
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

A lua que é viajante
é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar










Adriano Correia de Oliveira.
Menina dos Olhos Tristes
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Mensagem do nosso camarada Plácido Teixeira, da C. cav 3365 S. Domingos, 71/73.


A viver nos Estados Unidos:

Boston,



Enviou a seguinte mensagem, com data de hoje:






















Meus amigos
Quero compartilhar com todos voces, o que foi S.Domingos. Nao foram concerteza ferias ou ate um

safari em Africa. Foi uma guerra inutil alimentada por um Governo Europeu, que pos em perigo a

juventude, filhos e ate pais, que recusou a liberdade do povo africano, bem como a nossa propria

liberdade. Nao houve voluntarios houve obrigacao. Nao pela Patria mas pelo servico militar, para

depois sermos abandonados em terras longinquas. Fomos diariamente atacados por melhores armas,

melhor equipamento ao qual nao podiamos resistir. A destruicao era entao total. A desmoralizacao

aumentava e o desespero estava a vista. Um Governo que dava morteiros, e pouco mais para

defender a nossa vida! Onde estava a valentia? Nao havia valentes! Nada se fazia por esse Governo

a nao ser salvar a vida. . Como podiam Governantes que nao eram reconhecidos no Mundo livre,

obrigar a Juventude Portuguesa praticamente a defender-se com espingardas antiquadas,

morteiros e obuses de geracoes antigas e pouco mais que tenha tido nome?
Protegidos mal e porcamente pelos pelos velhos e lentos avioes , que por vezes nem nos podiam

oferecer proteccao. Havia o perigo de nos atingir e entao sermos nos as vitimas.. Pelas fotos,

ve-se a destruicao,!! Destruicao, causada pelos RPG.s e os famosos misseis de fabrico Sovietico.
Nunca tentamos ser valentes nem tao pouco apoiar um Governo cuja ideia era massacrar a Juventude

Portuguesa, usar para carne de canhao e tratar como carneiros.!!Nunca ninguem, nenhum de nos, foi

valente em troca de medalhas ou diplomas!!
Fomos obrigados a uma guerra que nunca deveria ter existido e para isso nao houve voluntarios,

nunca houve vencidos ou vencedores. Eles queriam a Liberdade ao mesmo tempo que em Portugal se

gritava pelo mesmo! O nosso povo estava farto de ditadura e caixotes de pinho. Esses lobos

famintos do Governo nada faziam e nada fizeram pelos que ficaram inutilizados e traumatizados,

passamos fome e sede. Ficamos sem panelas, electricidade e frigorificos. Alimentos e municoes

muito poucas.Fomos mendigos. Tivemos que andar na tabanca a mendigar por galinhas, porcos e o que

desse para comer. Beterraba serviu para substituir as batatas, que nao havia.
Nao fomos todos agarrados a mao, porque eles nao quizeram,afinal deram-nos mais respeito que o

Capitao barrigudo e mal encarado., sem personalidade e fraco professional. Pouco faltou para

que o quartel tenha sido invadido pois as condicoes e seguranca em que estavamos eram muito

limitadas. Chegamos a dormir e a comer com a espingarda ao lado. O Comandante do Batalhao, com

cara de Esganarelo e barriga de Sancho Pansa, deveria ter sido o unico voluntario para aquela

chamada guerra, esse viajava de helicopetro talvez com escolta enquanto os nossos homens

obrigados a ir para a guerra e para o mato em patrulhas, viajavam em velhas GMC do tempo da

guerra mundial e outras viaturas que o Governo comprava na Alemanha cuja finalidade era uso

civil, mas que transformava para uso militar.Portanto meus amigos, foi fome, peste e guerra.

Houve pessoas destemidas, que se recusaram a ir para o mato, outros recusaram e renunciaram a

patrulha e houve ate ameacas de desercao
Nunca se pos a vida em perigo, por medalhas ou meritos, pois sobreviver era entao o que estava no

pensamento.
Meus amigos, pelos que deixaram este Mundo por essa Guerra, devemos alem de tudo, rezar e que D.s

os tenha em Paz!
Bem Haja
Placido Teixeira

Fotos: © Plácido Teixeira direitos reservados.

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5 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite amigos

O texto e as fotos do amigo Plácido retratam fielmente o flagelo de que o aquartelamento de S. Domingos e a C.Cav. 3365 foram alvo. O grau de destruição que as fotos testemunham não deixa margem para dúvidas do poderio militar do PAIGC.
É preciso recordar a época 1971/1973 em que o potencial de armamento do PAIGC começou a ser superior ao nosso, e, apesar de tudo, não houve alteração na estratégia militar no Sector de S. Domingos. A principio ainda eramos socorridos pela aviação, que aos poucos se foi afastando daquela zona, considerada "perigosa para os aviões". Apenas foi destacado para lá outro Pelotão, vindo de outra Companhia, para reforço, e assim as operações passaram a ser efectuadas com 3 Pelotões em vez dos 2 iniciais. Os homens podiam servir de carne para canhão mas os aviões não podiam correr riscos para nos proteger.
Os meios militares de que dispunhamos para defesa eram exactamente os que o companheiro Plácido descreveu. Num aquartelamento a 5 Km do Senegal, cercados de mato por 3 lados, os militares estavam entregues à sua sorte e a Deus, e só não foram apanhados à mão e feitos prisioneiros, porque o PAIGC desconhecia as limitações da Companhia.
Um abraço ao amigo Seleiro, autor e editor do Blog, e outro abraço ao meu amigo Plácido, companheiro de Guerra e de outras jornadas.

Bernardino Parreira

Manuel Seleiro disse...

É verdade amigos fasso uma pequena ideia do que era o (Inferno de S.Domingos, ) nos últimos três anos...
Aquele quartel de S. Domingos era um alvo fácil.
Rodeado de mato ha esquerda e a direita e ao fundo do quartel com a mata a duzentos metros do arame farpado...
E com a agravante de ter a fronteira do Senegal a 5 Km...
Havia um promenor que era a estrada do Senegal/S. Domingos, que era uma linha reta e passava por o meio do quartel, que era um ponto de mira para quem trabalhava com os morteiros 82 era só fazer tiro directo e aí as granadas caíam todas dentro do quartel...
Bastava regular o tiro uma ou duas vezes e depois era só despejar lá para dentro.
Recordo que uma vez andámos a deitar abaixo umas árvores de grande porte que ficavam na linha de tiro dos Obuses, estas árvores ficavam a 300 netros ao funo do quartel, eram uma dúzia de árvores de grande porte foram abaixo com cargas direcionadas de quinhentas gramas de TNT, eram feitos uns buracos em volta da árvore e as cargas eram colocadas aí e ligadas por cordão detonante.
Os buracos eram feitos a partir do chão a uma altura de 50 sentínetros, a detunação era feita a distância de 50 metros por uma questão de segurança.
Curtava uma árvore como se fosse cortada por um machado de uma só vez.
Um abraço amigos.

Manuel Seleiro

Anónimo disse...

Amigo Seleiro

Fico impressionado com a sua memória e precisão com que descreve o aquartelamento, as estradas, caminhos e trilhos, do local onde esteve há 40 anos, portanto, 1 ano antes de nós, como já temos tido oportunidade de falar através do blogue e particularmente.
Lembro-me perfeitamente da "clareira" que existia ao fundo do quartel, só não sabia que tinha sido a Companhia que nos antecedeu, neste caso a sua, que tinha cortado essas árvores.
Como diz, e muito bem, era só fazer tiro directo e as granadas caíam dentro do Quartel. Granadas e não só...!!! A malta do PAIGC sabia onde nós estavamos, e fez daquele aquartelamento "uma Carreira de Tiro", como o meu companheiro Plácido referiu noutro posting, conforme palavras proferidas pelo General Spínola, mas nós não sabiamos onde eles estavam, do outro lado da densa mata.
Eu ainda estive algum tempo "aliviado" noutro aquartelamento, em rendição individual, mas quando regressei em Fevereiro de 1973 a S. Domingos, a 1 mês do regresso da Companhia à Metrópole, reencontrei os meus companheiros esgotados e exaustos, e passei a dormir em abrigos com a arma. Daquele mês, de Fevereiro a meados de Março de 1973 o tempo parecia não ter fim...
Mas cá estamos, graças a Deus vivos para contar e mostrar o que resta das memórias, para que não haja dúvidas do que foi a Guerra Colonial, neste caso em S. Domingos, na Guiné, até 1 ano antes do 25 de Abril.

Um abraço
B. Parreira

Placido disse...

Meus bons amigos
Muito respeito quem me respeita. A verdade deve ser dita e nunca mal interpretada.O meu amigo Seleiro, por quem eu tenho um grande respeito, agradeco imenso as boas palavras que tem para comigo sempre que lhe envio uma narracao do nosso passado.Por ele eu tenho muita consuderacao. Para o meu grande amigo Parreira, a palavra respeito, nao chegara, pois com ele compartilhei momentos dificeis e alguns menos mal. Por ele o meu amigo reencontrado tenho muita admiracao e e digno da minha amizade.Para voces meus amigos que D.s abencoe e de saude Muito obrigados um abraco Placido

Manuel Seleiro disse...

Caros amigos:
Quando nos últimos meses da minha presença naquele quartel, em que dois dos ataques de maior duração um foi as00horas 15minutos.
Durou 35 minutos.
o outro foi as 15 h 30 min durou cerca de 30 min...
E aí já se dizia que era de mais.
e os amigos asserem massacrádos diáriamente...
Grande sxpírito de camaradagem.
Um abraço amigo.

Manuel Seleiro