(Pel Caç Nat 60 )

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P18: Tributo aos Combatentes Africanos



“Tributo aos Combatentes Africanos”

Mas a nossa intenção não é contar a história de um dos muitos militares que estiveram
num dos teatros de operações na época. Pretendemos sim, prestar homenagem
àqueles que, mesmo querendo, não conseguem fazer ouvir a sua voz ou publicar os
seus escritos, talvez mais extensos do que outro qualquer militar metropolitano: os
militares Africanos.
Mas, na realidade, a referência às unidades do Exército, não esquecendo os outros
ramos das Forças Armadas, deve-se à impossibilidade de referir todos e cada um dos
cerca de 7.500 militares africanos que combateram ao lado dos metropolitanos.
Também há que referir as unidades de milícias, uma força paramilitar mal armada e
muitas vezes mal instruída, assim como os caçadores civis, os guias, os carregadores
os assalariados e outros, que também prestaram uma valiosa contribuição no esforço de
guerra junto das unidades militares.
Quando passei por aquela terra, na unidade em que servi, conheci soldados cujo
número mecanográfico terminava em 61, ou seja, tinham sido alistados em 1961 e, há
poucos anos, ao ler relatórios sobre a minha companhia, datados de 1973 e 1974, lá
constavam soldados alistados naquele ano. Isto quer dizer que houve homens –
soldados africanos - que cumpriram 13 anos de tropa o que equivale a 13 anos de
guerra, e que, na realidade, é muito tempo.
Em 1959/1960, com a nova orgânica das unidades nos territórios ultramarinos, foram
atribuídas à Guiné três companhias de caçadores indígenas e um grupo de artilharia de
campanha, no que concerne a tropas operacionais. Em 1960 já estavam criadas a 1ª
CCaçI e a 4ª CCaçI, assim como o Grupo de Artilharia de Campanha 7. A 3ª CCaçI foi
criada em Agosto de 1961. Estas unidades eram constituídas por praças africanas,
enquadradas por oficiais, sargentos e praças especialistas europeus. Estima-se que
nesta altura haveria cerca de 1.000 elementos africanos nas forças armadas
Com a chegada de unidades de reforço à província, muitos militares do recrutamento
local, foram atribuídos a essas unidades, transitando para as que vinham substituir as
anteriores.
A partir de 1966, os africanos foram chamados a uma intervenção mais activa no
esforço de guerra. Foi iniciada a constituição de Pelotões de Caçadores Nativos
(PelCaçNat) tendo sido formados sete pelotões numerados de 51 a 57. Estas unidades
eram comandadas por um oficial com a patente de alferes, coadjuvado por furriéis e

“Tributo aos Combatentes Africanos”
de: José Martins
3/6
praças especialistas europeias, uma estrutura adaptada à sua dimensão – entre 30 a 40
homens. Neste ano subiu, para 3952, o número de tropas locais em serviço.
O ano de 1967 foi um ano de viragem. As companhias de Caçadores existentes foram
redenominadas e transformaram-se nas CCaç 3 (ex-1ª CCaçI), CCaç 5 (ex- 3ª CCaçI) e
CCaç 6 (ex- 4ªCCaçI), além da formação de mais um PelCaçNat o nº 58.
Em 1968 foram criados 11 novos PelCaçNat, a quem foram atribuídos os números de 59
a 69, e em 1969 foram criadas as CCaç 11, 12, 13 e 14, a partir das CArt 2479 e CCaç
2590, 2591 e 2592, que já tinham uma constituição igual às anteriores companhias
existentes do recrutamento local ou foram adaptadas.
No período entre 1970 e 1973 foram constituídas mais sete companhias de
recrutamento local, as CCaç 15, 16, 17 e 18 (em 1970), a CCaç 19, (em 1971) e as
CCaç 20 e 21 (em 1973). Em 1973 foi, também, constituído o Pel.Caç.Nat 70.
A partir das antigas equipas de comandos, nas quais já se integravam muitos militares
africanos, foi constituída a 1ª Companhia de Comandos Africanos (1969) seguida da 2ª
CCmdsA (1971) e 3ª CCmdsA (1973), constituindo, neste ano, o Batalhão de Comandos
da Guiné.
Esses foram os verdadeiros heróis que, batendo-se nas mesmas condições de que
qualquer militar metropolitano, já lá se encontravam quando chegávamos e lá
continuaram quando partíamos, e a maioria lá ficou quando, ao abrigo do Acordo de
Alvor, datada de 26 de Agosto de 1974, entregaram as armas [artigo 17º do anexo ao
Acordo: “As forças armadas portuguesas obrigam-se a desarmar as tropas africanas sob
o seu controle. A Republica da Guiné-Bissau prestará toda a colaboração necessária
para o efeito.] e, receberam um punhado de dinheiro [artigo 24º do anexo ao Acordo: A
Delegação do PAIGC regista a declaração do Governo Português de que pagará todos
os vencimentos até trinta e um de Dezembro de mil novecentos e setenta e quatro aos
cidadãos da Guiné Bissau que desmobilizar das suas forças militares ou militarizadas,
bem como aos civis cujos serviços às forças armadas sejam dispensados.], tiveram que
regressar às tabancas e iniciar uma vida para a qual não havia, e provavelmente ainda
não há, futuro promissor. Foram estes homens que, vivendo com as famílias a seu lado,
se despediam delas sem saber se voltavam da operação de combate em que iam
participar. Foram estes homens que, faziam amizade com “o branco”, mas este
terminada a sua comissão de serviço regressava, mas ele “o preto” ficava e continuava
a luta.
Foram destes homens que se ouviu, muitos anos depois, frases como a que Assumane,
um “mecânico de bicicletas” em Bissau, que tinha percorrido toda a região do Gabú
quando foi soldado respondeu, quando lhe perguntaram porque não continuou no

“Tributo aos Combatentes Africanos”
de: José Martins
4/6
exército depois da independência: “Eu jurei bandeira do português, não pode jurar
duas bandeiras”.
3ª C. CAÇ I
Nova Lamego - 1962/1967
4ª C. CAÇ I
Bolama - 1962/1967
C. CAÇ. 3
Barro/Cacheu - 1967/1974
C. CAÇ. 5
Nova Lamego -
1967/1974
C. CAÇ. 6
Bedanda -
1967/1974
C. CAÇ. 11
1970/1974
C. CAÇ 12
Bambandinca -
1970/1974
C. CAÇ. 13
Bissorã -
1969/1974
C. CAÇ 14
Bolama -
1970/1974
C. CAÇ. 15
1970/1974
C. CAÇ. 16
1970/1974
C. CAÇ. 17
1970/1972
C. CAÇ. 18
1971/1973
PEL. CAÇ. NAT. 51
1966/1974
PEL. CAÇ. NAT. 52
1966/1974
PEL. CAÇ. NAT. 53
1966/1974
PEL. CAÇ. NAT. 55
1966/1974
PEL. CAÇ. NAT. 57
1967/1974
PEL. CAÇ. NAT. 58
1967/1974
PEL. CAÇ. NAT. 60
1968/1974
PEL. CAÇ. NAT. 69

“Tributo aos Combatentes Africanos”
de: José Martins
5/6
Batalhão de Comandos da Guiné
PELOTÃO DE MILÍCIAS 169
(Guiné 1965)
PELOTÃO DE MILÍCIAS 410
Companhia de Milícias de Jugudul
Guiné 1973/1974
GRUPOS ESPECIAIS
(Guiné )
Retirado, com a devida vénia, de http://brasoes.home.sapo.pt

“Tributo aos Combatentes Africanos”
de: José Martins
6/6
O Autor:
Nascido em Leiria em Setembro de 1946, foi recrutado em Julho de 1967 tendo
frequentado o Curso de Sargentos Milicianos. Foi mobilizado e embarcou para a Guiné
em Maio de 1968, onde foi integrado na Companhia de Caçadores nº 5, unidade do
recrutamento local do Comando Territorial Independente da Guiné, até Junho de 1970,
data em que regressou, passando à disponibilidade no mês seguinte.
1968/1970 – Furriel Miliciano de Transmissões de Infantaria
Nova Lamego e Canjadude - Guiné
2008 – Técnico Oficial de Contas – Grande Lisboa

Nota de Manuel Seleiro.

Texto em PDF:
Enviado pelo João Manuel Félix Dias Fur Mil da companhia de Cavalaria-2539.
Manuel Seleiro

DFA

_

Sem comentários: