(Pel Caç Nat 60 )

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P58: as nossas amigas, (PRETAS,)de S. Domingos.









Mensagem do Plácido Teixeira da C. cav 3365 S. Domingos 71/73:
Com data de hoje:
26 02 2010.
A viver nos Estados Unidos:
Boston,


As nossas amigas pretas de S.Domingos



"
Durante dois anos, foram a nossa amizade feminina!
Foram nossas companheiras, amigas. Foi com elas que desabafamos ao mesmo tempo que elas nos confidenciavam os seus segredos pessoais!!
Foram nossas lavadeiras, muitas vezes nos davam conselhos. Tinham bonitas caras e bom coracao. Eram carinhosas, meigas e bem dispostas. Com elas, tenho a certeza, que muitos de nos se tornaram homens e com elas perderam a inocencia.
Quem sabe quantos descendentes por la teriam ficado? Nao era afinal nenhum crime, era a naturalidade da vida!! Foi a natureza a trabalhar.
Tinham um amor imenso por nos davam-nos carinho e muita ternura. Eram seres humanos com as mesmas necessidades e carencias ..Choravam, riam e sofriam.Tinham medo e tinham solidao. Falavam connosco como se fossem familia, viviam a vida simples, o isolamento, a solidao tal como todos nos militares!! Bebiam connosco e juntos viviamos a vida.
Eram afinal as nossas amigas que tivemos e deixamos em S.Domingos!!

Fotos © Plácido Teixeira da C. cav 3365 direitos reservados.
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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P57: O SR pepino.


Mensagem do Plácido Teixeira, da C. cav 3365 S. Domingos 71/73.
Com data de 21-02 2010.

A viver nos Estados Unidos:
Boston,








Pepino, era uma pessoa da nossa Companhia, que diariamente nos fazia rir devido a sua imaginacao inculta ... Arrogante e barrigudo. Chico por profissao!
Trombudo e mal encarado, o Senhor Pepino, comeu moscas e engoliu moscardos. Foi o bobo da festa, ignorado e desrespeitado como ser humano. O senhor Pepino, parecia mais uma abobora do que um pepino. Deram-lhe este nome e com ele ficou. Colou como cola!!!
Afinal nao eramos canalha, eramos pessoas cultas, inteligentes e jovens. Estavamos la obrigados. Ele escolheu ir para a Guine, ganhar bom dinheiro!! Como tal, nao aceitavamos as besteiras do Pepino. Havia sempre maneira de retaliar as furias dele que passavam entao a ser um um Show de comedia!
A hora do almoco, de repente havia o silencio, depois de se sentir um barulho como uma cavalgadura, chegava entao o Pepino, como se fosse o Presidente!
Primeiro ouvia-se as patadas. Depois via-se um bandulho, que era a barriga e so depois passados uns minutos, aparecia o resto do corpo.
Sentava-se a mesa como um labrego , de pernas abertas, porque a barriga caia entre elas. Cara vermelha e a suar, parecia um boi a bufar!! Havia sempre um argumento negativo da parte dele.... A agua esta quente! A comida esta fria! A comida e muito pouca! etc etc.
O senhor Pepino, de ignorante que era, esquecia-se que para ter agua fresca, era preciso electricidade e esta so vinha para a noite, quando vinha.
Quanto a comida, o labrego queixou-se sem razao que estava fria e a partir dai, a comida dele estava sempre a espera dele!!
Lembro-me que o Pepino, um dia talvez por inveja do tempo livre que eu tinha, ou porque quisesse ganhar a batalha comigo, tentou por-me na secretaria a ajudar. Chamou-me e disse. "E pa sei que trabalhas nos Correios, que sabes escrever a maquina, precisava de ti na secretaria para adiantar as coisas".
O dia marcado la fui eu, chateado e a pensar...!! Pos-me na maquina, tinha papeis por todos os lados. Eu nao fiz nada de jeito, so asneira mais asneira e deitar papeis para o lixo!!! O Pepino ficou irritado, atrasou-se ainda mais e disse: -
"E pa pensei que sabias escrever melhor a maquina! Entao tu nao trabalhas nos Correios e nao escreves a maquina?" Eu disse, e verdade, mas eu nos Correios so sirvo para vender selos e despachar encomendas!! O Pepino nunca mais me quiz para escrever a maquina e servir de seu empregado. Havia tambem comedia, quando o Pepino ia tomar o cafe e estavam os Furrieis em chinelos e camisa aberta. O Pepino ficava doido, nao conseguia ter a boca fechada. Era entao quem mais podia rir por baixo das mesas. Houve ate alturas que o Pepino estava sentado, parecia uma vaca a tomar o cafe, e entao o costume era os furrieis entrarem por uma porta e sairem pela outra. Enquanto ele lá estivesse ninguem queria estar perto. Era tratado como um palhaco, era ignorado e desrespeitado. O Pepino, comeu moscas e engoliu moscardos . Mas afinal foram episodios de boa disposicao, em que o Pepino e outros foram os actores, que nos ajudaram a passar o tempo e ate tirar do pensamento o pior que o dia a dia nos dava.

Fotos © do Plácido Teixeira, da C. cav 3365 direitos reservados.


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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P56: Lágrima de preta, Poesia.



Coro dos escravos Hebreus.
NABUCCO (Verdi)



Lágrima de preta

Encontrei uma preta

Que estava a chorar,

Pedi-lhe uma lágrima

Para a analisar.

Recolhi a lágrima

Com todo o cuidado

Num tubo de ensaio

Bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,

Do outro e de frente:

Tinha um ar de gota

Muito transparente.

Mandei vir os ácidos,

As bases, os sais,

As drogas usadas

Em casos que tais.

Ensaiei a frio,

Experimentei ao lume,

De todas as vezes

Deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,

Nem vestígios de ódio,

Água (quase tudo)

E cloreto de sódio.

António Gedeão,

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P55: (Você meu amigo.)




Mensagem do Plácido Teixeira da C. cav 3365 -S. Domingos 71/73.
Com data de 14 02 2010
A viver nos Estados Unidos.
Boston,



Voce, tal como eu e todos os demais jovens da nossa idade naquele

tempo, sofremos
os
perigos e horrores da Guerra Colonial, somos todos vitimas. Uns mais

do que outros, vitimas inocentes de abuso politico.
Voce que sofreu no corpo o crime cometido por senhores do poder, que

não pensaram em si, ou em todos nós!! Pensaram somente no poder, no

colonianismo e interesses pessoais com importancia.
Voce que andou numa guerra, injusta e criminosa, voce por quem eu tenho

o maior respeito, voce que foi vitima de interesses, de ditadores

rudes, criminosos que usaram o povo portugues e a sua juventude, que

sacrificaram gerações e as usaram em nome da Pátria .
Voce que continua ignorado, por um Governo que se diz Democratico e

que nada faz pelo seu bem estar ou para aliviar o seu sofrimento e de

sua familia.
Voce que chorou lagrimas de sangue, as mesmas que seus pais, seus

filhos, sua esposa ou ate a rapariga que voce amava, choraram por si.
Voce, amigo que partiu para sempre, deixou tristeza, deixou saudade,

deixou na memoria de todos nós, a boa pessoa e amante da vida, que

voce era.
Voce, amigo que tinha ainda tanto amor para dar e alegria para viver!
Voce, amigo, jovem, cheio de energia e talento e juventude, poderia

ter feito tanto por Portugal, pelos amigos e pela familia.
Voce, meu amigo, que deixou para sempre, os seus companheiros

militares, amigos, mas eles de si nunca se esqueceram . Sabem que

voce, esta com D.s!!
Voce, meu amigo, continua na memoria, desses que consigo jogaram à

bola, às cartas, e que passaram bons momentos numa festa ou até num

almoço.
Esses amigos, ficaram tambem marcados para sempre, pelas tragedias

pessoais dessa guerra, com a saudade, a tristeza do sofrimento. Esses

amigos passaram noites sem dormir, a pensar nos companheiros feridos,

no sofrimento e nos que partiram para sempre. Esses amigos ficaram

marcados pela tragedia e tremiam de medo ao ouvir um barulho mais

forte, mais intenso. Muitos desses amigos, ainda hoje sobrevivem

traumatizados pela guerra, continuam a viver pelas ruas das nossas

cidades!!
Voce, meu amigo, tal como os amigos que partiram para sempre, mais os

que vivem nas ruas, e ainda os que hoje sofrem a saudade de todos

esses menos afortunados, foram vitimas de interesses pessoais e de

poder politico, continuam hoje esquecidos, por outros politicos, com os

mesmos interesses de poder e pessoais. Voce, amigo nao está esquecido,

nunca será esquecido pelo seu amigo, companheiro e camarada. Voce

amigo, continua sempre no pensamento.
Voce, meu amigo, eu nunca o esqueci. Voce, meu amigo, que me deu

palavras de carinho, de ânimo, de força e de coragem para o futuro!

Voce, meu amigo, que confiou em mim, que me deu valor eu nunca o

esqueci. Meu amigo, você foi meu amigo e tenho imenso orgulho de ser

seu amigo!!. As circunstâncias da vida tornaram impossivel que eu lhe

retribuisse a mesma amizade e coragem a mesma confiança, o mesmo valor

!! Voce, meu amigo foi valente, voce teve coragem, voce e ainda hoje

um heroi, porque tenta dar animo e ajuda aos ex-combatentes menos

infelizes . Voce tem lutado e conseguido que eles nunca tenham sido

esquecidos.Voce conseguiu que eles tenham tido uma vida humanamente

mais digna!! Bem haja e que D.s o abençoe



Fotos © do Plácido Teixeira, da C. cav 3365 direitos reservados.

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domingo, 14 de fevereiro de 2010

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P54: Poesia Chamam-te Rosa, minha preta formosa,





Rosa

Rosa.

Chamam-te Rosa, minha preta formosa,

E na tua negrura

Teus dentes se mostram sorrindo.

Teu corpo baloiça, caminhas dançando,

Minha preta formosa, lasciva e ridente

Vais cheia de vida, vais cheia de esperança

Em teu corpo correndo a seiva da vida

Tuas carnes gritando

E teus lábios sorrindo...

Mas temo a tua sorte na vida que vives,

Na vida que temos..

Amanhã terás filhos, minha preta formosa

E varizes nas pernas e dores no corpo;

Minha preta formosa já não serás Rosa,

Serás uma negra sem vida e sofrente,

Serás uma negra

E eu temo a sua sorte.

Minha preta formosa não temo a tua sorte,

Que a vida que vives não tarda a findar...

Minha preta formosa, amanhã terás filhos

Mas também amanhã...

... amanhã terás vida!

Amílcar Cabral (Cabo Verde) in Revista "Mensagem",

Ano I, nº 6, Janeiro de 1949

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P53: Notas Soltas.



Notas soltas:

Guiné, Ingoré ano de 69.
Uma pequena história, de um grande homem.
Pirróne era o seu nome, condutor auto de especialidade da companhia de caçadores 1801…
Conheci-o em Ingoré quando da ida do pelotão de caçadores nativos 60 para aquele quartel.
Era uma pessoa calma mas de uma compleição física fora do comum era alto e de uma força física sem igual…
Normalmente quando saía em coluna auto na GMC que lhe estava atribuída, nunca conduzia dentro da referida viatura.
Durante as picagens conduziam só com um pé no acelerador e resto do corpo fora da GMC este modelo creio que era o mais antigo, o tejadilho era de chapa e o banco do condutor era um saco de areia.
Nunca vi este homem de camuflado, o seu fardamento abitual era uns calções, uma camisa número 2 e chapéu de palha, por vezes andava de chinelos…
O Pirróne era temido, e respeitado desde o soldado, ao Capitão.
Amigo do seu amigo, mas quando as coisas corriam para o torto, atenção! O Pirróne não perdoava.
Segundo a versão que corria entre os camaradas do Pirróne quando da passagem da 1801 pelo Cacheu, a companhia passou ali a noite quando seguia para Ingoré.

Ainda era o velho quartel junto ao Rio, nessa noite ouve um grande ataque ao quartel do Cacheu…
As instalações eram pequenas para duas companhias, ouve muita confusão e muitos feridos com gravidade.
Ouve dois homens da 1801 que se destacaram, um dos soldados subiu para o terraço do edifício, e de metralhadora MG em punho varria toda a zona da capela, onde estava um canhão sem-recuo.
O Pirróne saío do quartel sozinho levou consigo o cinturão cheio de granadas de mão, e a G3 e partiu pela rua principal do Cacheu em direção onde se realizava o mercado e assim foi progredindo, rajada a esquerda e a direita uma vez por outra lançava uma granada para progredir no terreno.
Foi assim que o IN foi abrandando o fogo na direção do Quartel, o soldado da MG foi condecorado e o Pirróni exibia varias cicatrizes no rosto.
O quartel de Ingoré, tinha dois destacamentos, o do Sedengal, o da Totinha, o Pirróni foi destacado para o Sedengal, por três meses.
Passados 36 dias da sua presença ali os camaradas que se encontravam sentiam no Pirróne um líder, aproveitaram para contarem que as coisas sobre a comida andavam muito mal.
Depois de fazer algumas investigações junto do cabo do depósito de géneros e do cozinheiro, chegou a conclusão que havia bacalhau e batatas para fazer uma vez por semana coisa que não acontecia a muito tempo.
Houve uma reunião na caserna com cerca de 20 soldados com o Pirróne como chefe, a decisão tomada foi de falar com o Alferes comandante do destacamento.
Foi dado um prazo ao Alferes, de três dias para dar uma refeição de batatas com bacalhau…
Mais foi dito se tal não viesse acontecer o Pirróne saía do Sedengal com os homens que o quisessem acompanhar até Ingoré.
Ao terceiro dia na refeição do almoço não foi o que eles esperavam.
Depois de uma curta reunião no refeitório cerca de 14 homens comandados por o Pirróne formaram em frente ao comando, armado, e de camuflado onde o pirróne deu as vozes de comando aos homens.
Informou o Alferes que iam partir em coluna até Ingoré onde chegaram por volta das 16horas…
Chegados a Ingoré…
Soldados, oficiais e sargentos do quartel de Ingoré ficaram todos com curiosidade em saber o que tinha acontecido!
Lá estava o Pirróne com os seus 14 homens mandou pôr os soldados em sentido, e apresentou-os ao Capitão. O capitão deu ordem para ficarem a vontade e pediu que o Pirróne fosse ao seu gabinete.
Uma hora depois da conversa ter terminado foi feita uma coluna auto para levar um carregamento com géneros e os 14 homens para o destacamento do Sedengal.
Ninguém ficou a saber o que se passou no gabinete do capitão.

A escolta foi feita pelo pelotão de caçadores nativos 60.

Primeiro cabo Manuel Seleiro
DFA,

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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P52: Memórias do Tempo Passado.











Memsagem do Plácido Teixeira da C. cav 365 S. Domingos 71/73.

Com data 06 02 2010:

A viver nos Estados Unidos:
Boston


Memórias do tempo Passado.





Desde que disse ao meu filho que estive em Africa, que andei la como

militar, a curiosidade dele em saber mais, e enorme !!.
As perguntas sao incessantes e continuas. A Africa, a guerra, o que

fazia, etc.!!
Por vezes ja nao consigo responder a tanta pergunta. Fico cansado e

por vezes, peco-lhe ate para deixar algumas perguntas para o dia

seguinte.
Disse-lhe o que foi a guerra e qual foi a razao. Expliquei como se

vivia com o perigo.! Como viviam os nativos e como nos os respeitava-

mos como seres humanos, tal e qual como eramos nos. Que genero de

Governo havia em Portugal nessa altura. Que escuro era o nosso Pais

onde nao havia liberdade. Um pais que tinha um Governo que chamava de

""Marranos"" as pessoas com a nossa Fe, Que no servico militar

obrigatorio nao interessava se fossem Marranos, doentes, ciganos ou

outras minorias. Eram todos obrigados a ir para a tropa de onde nao

se podia sair. Enviados para o degredo, para longe da familia, em

Africa.
Contei-lhe como foi a nossa vida na Guine, das privacoes,

limitacoes, abandono e ignorados pelo mesmo Governo!.
Disse-lhe que Portugal era um pais de fome e de pobreza, sem o minimo

respeito pela dignidade humana. Que nao havia democracia e direitos

humanos, que nao havia direito a voto, que nao se podia escolher os

Governantes. Que muitas pessoas roubavam para matar a fome aos flhos e

poder sobreviver.
Disse-lhe que Portugal, nessa altura, nao tinha um Governo legitimo e

como tal, era repudiado, nao era reconhecido pela maioria do Mundo

livre. Que Portugal nao podia comprar armamento, para a nossa defesa,

pois ninguem as vendia a Portugal. Contei-lhe do arame farpado que me

fazia lembrar um campo de concentracao!! Ele, sabe bem da historia e

do passado Nazi, pelo qual esse mesmo Governo teve admiracao!! Ele

aprendeu na escola os crimes cometidos contra um povo, do qual

fazemos parte, somente porque acreditamos num so D.s!!!! Contei-lhe

que esse Governo, tirou alimentos aos Portugueses, para vender aos

Nazis, que esses alimentos foram pagos com o ouro roubado das vitimas

dos campos de concentracao!! Crimes esses que a humanidade e o Mundo

moderno, nao pode negar!!. Contei-lhe das necessidades e privacoes, das

amizades de pessoas que nos respeitaram. Disse-lhe que em 39 anos, eu

nunca falei disto a ninguem, talvez por respeito a mim proprio ou

porque nao queria que outros soubessem o que foi o sofrimento em

Africa. Disse-lhe que antes de eu fechar este assunto para sempre,

era finalmente altura de lhe contar .
Depois de lhe explicar tanta coisa, ele olhou para o chao, houve

silencio e ficou assim algum tempo. Depois um sorriso e um abraco.
Olhou para mim e disse-me, nem sei como o teu pai te deixou ir!!.
As lagrimas estavam nos olhos dele e eu nao pude conter as minhas.
As criancas tambem nos dao licoes de vida, alem das licoes de amor, que

nos dao diariamente. Acredito que o melhor que se pode deixar aos

filhos, sao memorias, o tempo passa, mas as memorias ficam eternamente.

Dedico esta mensagem com homenagem a todas as vitimas da guerra inutil,

injustificada e de terror politico
Meus amigos bem hajam!



Nota:
Vídio enviado pelo Plácido Teixeira.
Carta de um pai para um filho.


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Nota:
Do Bernardino Parreira Ex Fur Mil da C. cav 3365 S. Domingos 71/73.



Meu Grande Amigo Placido
A forte emoção que tive ao ler este texto deixou-me sem palavras.

Comove até às lágrimas! Ouvir da boca de uma criança a exclamação "não

sei como o teu pai te deixou ir"!! Trespassa-nos o coração. Meu D.s, as

crianças pensam que os pais os protegem sempre, e nós às vezes ficamos

sem resposta...
Este texto está Excelente, ensina miúdos e "graúdos". B.Parreira


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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P51: O primeiro Sargento que tratava o Morteiro por tu.



Quartel de Ingoré ano de 69.
Companhia de caçadores 1801 67/69:
Chamava-se Óscar era primeiro sargento, da Caç 1801.
Tinha a sua responsabilidade a manutenção do morteiro 81 e apontador do mesmo…
Este homem tinha a particularidade de tratar o morteiro 81 por tu!
Dentro do abrigo as caixas das granadas estavam arrumadas segundo o seu método de trabalho.
Havia uma caixa de granadas com todas as cargas, propulsoras e duas ou três de granadas sem cargas.
O abrigo era em forma de meia lua, e tinha umas estacas de madeira, numeradas o que ele chamava de cota de tiro.
O primeiro sargento Óscar era considerado o melhor apontador de morteiro em todo o sector de S. Domingos e arredores…
E o que lhe dava esse estatuto, de melhor apontador de morteiro 81 era um pormenor muito importante…
Este homem conseguia por no ar (doze granadas de morteiro 81 e rebentarem de rajada!)


Nota:
A pessoa que está na foto não é o primeiro sargento Óscar.

Manuel Seleiro

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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P50: Não chamem cobardia!





Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Vamos senhor pensativo
olhe o cachimbo a apagar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Senhora de olhos cansados
porque a fatiga o tear
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

A lua que é viajante
é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar










Adriano Correia de Oliveira.
Menina dos Olhos Tristes
Clique aqui.




Mensagem do nosso camarada Plácido Teixeira, da C. cav 3365 S. Domingos, 71/73.


A viver nos Estados Unidos:

Boston,



Enviou a seguinte mensagem, com data de hoje:






















Meus amigos
Quero compartilhar com todos voces, o que foi S.Domingos. Nao foram concerteza ferias ou ate um

safari em Africa. Foi uma guerra inutil alimentada por um Governo Europeu, que pos em perigo a

juventude, filhos e ate pais, que recusou a liberdade do povo africano, bem como a nossa propria

liberdade. Nao houve voluntarios houve obrigacao. Nao pela Patria mas pelo servico militar, para

depois sermos abandonados em terras longinquas. Fomos diariamente atacados por melhores armas,

melhor equipamento ao qual nao podiamos resistir. A destruicao era entao total. A desmoralizacao

aumentava e o desespero estava a vista. Um Governo que dava morteiros, e pouco mais para

defender a nossa vida! Onde estava a valentia? Nao havia valentes! Nada se fazia por esse Governo

a nao ser salvar a vida. . Como podiam Governantes que nao eram reconhecidos no Mundo livre,

obrigar a Juventude Portuguesa praticamente a defender-se com espingardas antiquadas,

morteiros e obuses de geracoes antigas e pouco mais que tenha tido nome?
Protegidos mal e porcamente pelos pelos velhos e lentos avioes , que por vezes nem nos podiam

oferecer proteccao. Havia o perigo de nos atingir e entao sermos nos as vitimas.. Pelas fotos,

ve-se a destruicao,!! Destruicao, causada pelos RPG.s e os famosos misseis de fabrico Sovietico.
Nunca tentamos ser valentes nem tao pouco apoiar um Governo cuja ideia era massacrar a Juventude

Portuguesa, usar para carne de canhao e tratar como carneiros.!!Nunca ninguem, nenhum de nos, foi

valente em troca de medalhas ou diplomas!!
Fomos obrigados a uma guerra que nunca deveria ter existido e para isso nao houve voluntarios,

nunca houve vencidos ou vencedores. Eles queriam a Liberdade ao mesmo tempo que em Portugal se

gritava pelo mesmo! O nosso povo estava farto de ditadura e caixotes de pinho. Esses lobos

famintos do Governo nada faziam e nada fizeram pelos que ficaram inutilizados e traumatizados,

passamos fome e sede. Ficamos sem panelas, electricidade e frigorificos. Alimentos e municoes

muito poucas.Fomos mendigos. Tivemos que andar na tabanca a mendigar por galinhas, porcos e o que

desse para comer. Beterraba serviu para substituir as batatas, que nao havia.
Nao fomos todos agarrados a mao, porque eles nao quizeram,afinal deram-nos mais respeito que o

Capitao barrigudo e mal encarado., sem personalidade e fraco professional. Pouco faltou para

que o quartel tenha sido invadido pois as condicoes e seguranca em que estavamos eram muito

limitadas. Chegamos a dormir e a comer com a espingarda ao lado. O Comandante do Batalhao, com

cara de Esganarelo e barriga de Sancho Pansa, deveria ter sido o unico voluntario para aquela

chamada guerra, esse viajava de helicopetro talvez com escolta enquanto os nossos homens

obrigados a ir para a guerra e para o mato em patrulhas, viajavam em velhas GMC do tempo da

guerra mundial e outras viaturas que o Governo comprava na Alemanha cuja finalidade era uso

civil, mas que transformava para uso militar.Portanto meus amigos, foi fome, peste e guerra.

Houve pessoas destemidas, que se recusaram a ir para o mato, outros recusaram e renunciaram a

patrulha e houve ate ameacas de desercao
Nunca se pos a vida em perigo, por medalhas ou meritos, pois sobreviver era entao o que estava no

pensamento.
Meus amigos, pelos que deixaram este Mundo por essa Guerra, devemos alem de tudo, rezar e que D.s

os tenha em Paz!
Bem Haja
Placido Teixeira

Fotos: © Plácido Teixeira direitos reservados.

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P49: camarada deficiente


camarada deficiente
deficiente companheiro

Tu és um grito poema saltando duma garganta,garganta escrava que foi garganta liberta que é! Tu foste o motivo que causou. Tu foste a causa que motivou a libertação que eu poema sinto e sou! Tu companheiro foste o mal necessário sem o qual não teriam despertado os capitães d'Abril! Sem ti Companheiro mutilado muitos... mas muito soldados seriam sacrificados nestes dois anos d'Abril! Eu sou um poema inteiro não mutilado porque sou feito de ti do sinistrado da viúva, do órfão e trabalhador explorado! -Tu és um símbolo: não de fascista, nem de explorador! Tu tens toda a raiva qu'eu tenho de ofendido, oprimido, colonizado! Eu sou um poema sentido porque sou feito de ti! Tu foste peça d'armamento e como instrumento matámos! (é preciso que o poema que somos grite: MATÁMOS) Mas quando matámos e vimos correr o sangue vermelho dum povo negro: Acordámos! (é preciso que o poema que somos grite: ACORDÁ-MOS) E quando acordámos: Não vimos só que as gaivotas eram livres! – Renascemos! E ao renascer despertámos muitas gentes surdas e endurecidas! – Tu, camarada, deste-me a mim, poema, a cor do sangue que rasgou a alma dum soldado! – E eu, poema, feito de ti, sinto que se não foras tu... se não tivesse em mim as tuas carnes decepadas: Abril teria sido só Abril com trinta escravas madrugadas!
António CalvinhoIn “Trinta Facadas de Raiva”

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