segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P57: O SR pepino.
Mensagem do Plácido Teixeira, da C. cav 3365 S. Domingos 71/73.
Com data de 21-02 2010.
A viver nos Estados Unidos:
Boston,
Pepino, era uma pessoa da nossa Companhia, que diariamente nos fazia rir devido a sua imaginacao inculta ... Arrogante e barrigudo. Chico por profissao!
Trombudo e mal encarado, o Senhor Pepino, comeu moscas e engoliu moscardos. Foi o bobo da festa, ignorado e desrespeitado como ser humano. O senhor Pepino, parecia mais uma abobora do que um pepino. Deram-lhe este nome e com ele ficou. Colou como cola!!!
Afinal nao eramos canalha, eramos pessoas cultas, inteligentes e jovens. Estavamos la obrigados. Ele escolheu ir para a Guine, ganhar bom dinheiro!! Como tal, nao aceitavamos as besteiras do Pepino. Havia sempre maneira de retaliar as furias dele que passavam entao a ser um um Show de comedia!
A hora do almoco, de repente havia o silencio, depois de se sentir um barulho como uma cavalgadura, chegava entao o Pepino, como se fosse o Presidente!
Primeiro ouvia-se as patadas. Depois via-se um bandulho, que era a barriga e so depois passados uns minutos, aparecia o resto do corpo.
Sentava-se a mesa como um labrego , de pernas abertas, porque a barriga caia entre elas. Cara vermelha e a suar, parecia um boi a bufar!! Havia sempre um argumento negativo da parte dele.... A agua esta quente! A comida esta fria! A comida e muito pouca! etc etc.
O senhor Pepino, de ignorante que era, esquecia-se que para ter agua fresca, era preciso electricidade e esta so vinha para a noite, quando vinha.
Quanto a comida, o labrego queixou-se sem razao que estava fria e a partir dai, a comida dele estava sempre a espera dele!!
Lembro-me que o Pepino, um dia talvez por inveja do tempo livre que eu tinha, ou porque quisesse ganhar a batalha comigo, tentou por-me na secretaria a ajudar. Chamou-me e disse. "E pa sei que trabalhas nos Correios, que sabes escrever a maquina, precisava de ti na secretaria para adiantar as coisas".
O dia marcado la fui eu, chateado e a pensar...!! Pos-me na maquina, tinha papeis por todos os lados. Eu nao fiz nada de jeito, so asneira mais asneira e deitar papeis para o lixo!!! O Pepino ficou irritado, atrasou-se ainda mais e disse: -
"E pa pensei que sabias escrever melhor a maquina! Entao tu nao trabalhas nos Correios e nao escreves a maquina?" Eu disse, e verdade, mas eu nos Correios so sirvo para vender selos e despachar encomendas!! O Pepino nunca mais me quiz para escrever a maquina e servir de seu empregado. Havia tambem comedia, quando o Pepino ia tomar o cafe e estavam os Furrieis em chinelos e camisa aberta. O Pepino ficava doido, nao conseguia ter a boca fechada. Era entao quem mais podia rir por baixo das mesas. Houve ate alturas que o Pepino estava sentado, parecia uma vaca a tomar o cafe, e entao o costume era os furrieis entrarem por uma porta e sairem pela outra. Enquanto ele lá estivesse ninguem queria estar perto. Era tratado como um palhaco, era ignorado e desrespeitado. O Pepino, comeu moscas e engoliu moscardos . Mas afinal foram episodios de boa disposicao, em que o Pepino e outros foram os actores, que nos ajudaram a passar o tempo e ate tirar do pensamento o pior que o dia a dia nos dava.
Fotos © do Plácido Teixeira, da C. cav 3365 direitos reservados.
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1 comentário:
Meus amigos
Que saudades eu tenho dessa juventude! Não podemos esquecer que eramos jovens de 21-22-23 anos, em que, apesar dos "Cornos da Desgraça" em que estavamos, qualquer coisa nos servia para rir, e esse era o melhor remedio para tentar esquecer a porrada que levavamos constantemente vinda do Senegal, e que a qualquer momento podiamos deixar o mundo dos vivos, ou ficarmos incapacitados para sempre.
Por isso, aproveitavamos bem os intervalos da guerra em que tinhamos sido obrigados a participar.
Não podiamos admitir que um "Chico" qualquer recalcasse mais a nossa juventude e a nossa inteligência.
Como podiamos estar abotoados até ao pescoço perante aquele calor insuportável da Guiné?
Já não bastava estar vestidos, calçados e armados, quase 24 horas por dia, e ainda perante as ordens desse "Chico", quando íamos a Bar dos Sargentos, teriamos que ir devidamente aprumados. Como se naquela Guerra, e em S. Domingos, em 1971/1973, pudesse haver algum aprumo...! Ele estava ali de vontade e por amor à farda, e ao ordenado que ganhava, nós estavamos ali à força, da lei e do cumprimento do Serviço Militar Obrigatório.
Por isso, por unanimidade absoluta, todos os furrieis se recusaram a acatar as ordens desse militarista, do excesso de zelo na vestimenta, enquanto estavamos por alguns momentos de "folga" no Bar.
Só a prodigiosa memória do meu amigo Plácido se poderia ainda lembrar disto. Fez-me reviver esses tempos, de revolta mas também de companheirismo, perante o infortunio de termos ido parar àquela maldita guerra e a alegria de viver cada momento da nossa juventude.
Abraços aos amigos Manuel Seleiro e Plácido Teixeira
Bernardino Parreira
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