segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P49: camarada deficiente
camarada deficiente
deficiente companheiro
Tu és um grito poema saltando duma garganta,garganta escrava que foi garganta liberta que é! Tu foste o motivo que causou. Tu foste a causa que motivou a libertação que eu poema sinto e sou! Tu companheiro foste o mal necessário sem o qual não teriam despertado os capitães d'Abril! Sem ti Companheiro mutilado muitos... mas muito soldados seriam sacrificados nestes dois anos d'Abril! Eu sou um poema inteiro não mutilado porque sou feito de ti do sinistrado da viúva, do órfão e trabalhador explorado! -Tu és um símbolo: não de fascista, nem de explorador! Tu tens toda a raiva qu'eu tenho de ofendido, oprimido, colonizado! Eu sou um poema sentido porque sou feito de ti! Tu foste peça d'armamento e como instrumento matámos! (é preciso que o poema que somos grite: MATÁMOS) Mas quando matámos e vimos correr o sangue vermelho dum povo negro: Acordámos! (é preciso que o poema que somos grite: ACORDÁ-MOS) E quando acordámos: Não vimos só que as gaivotas eram livres! – Renascemos! E ao renascer despertámos muitas gentes surdas e endurecidas! – Tu, camarada, deste-me a mim, poema, a cor do sangue que rasgou a alma dum soldado! – E eu, poema, feito de ti, sinto que se não foras tu... se não tivesse em mim as tuas carnes decepadas: Abril teria sido só Abril com trinta escravas madrugadas!
António CalvinhoIn “Trinta Facadas de Raiva”
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