sábado, 29 de maio de 2010
Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -p75:Guiné Bissau (arquipélago dos Bijagós)
Guiné-Bissau
O modo de vida, os costumes
tradicionais e o carácter sagrado
de alguns
locais explicam o estado de
conservação excepcional do meio
ambiente. O
arquipélago constitui por essa
razão um dos principais locais de
reprodução
dos recursos haliêuticos do país,
representando a pesca um pilar da
economia nacional. O meio marinho
é um verdadeiro reservatório de
diversidade biológica de
importância internacional: ilhéus
ocupados por
colónias de aves marinhas; praias
utilizadas por milhares de
tartarugas
marinhas para a desova; áreas
lodosas frequentadas por mais de
700 000
aves pernaltas migratórias;
mangais povoados de manatins e
lontras;
hipopótamos transformados pelo
tempo em animais marinhos;
crocodilos;
canais habitados por golfinhos.
Os fuselos reproduzem-se na
Europa e migram para África,
acabando por ser um
laço entre estes dois continentes
É por reconhecer o valor
deste património que o
arquipélago foi
classificado pela
UNESCO como
Reserva da Biosfera.
Costeira e Marinha da África
Ocidental), FIBA (Fundação
Internacional do Banc d’Arguin),
UICN (União Mundial para a
Natureza),
INEP (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisa), GPC
(Gabinete de Bijagós (tutelada
actualmente pelo Instituto da
Biodiversidade e das Desde há
alguns anos que numerosas
influências exteriores interferem
com
este equilíbrio secular. O
arquipélago, outrora fechado
sobre o seu mistério,
é hoje sujeito a muitas cobiças.
Os seus recursos naturais, ainda
abundantes,
atraem a pesca industrial da
Europa e da Ásia que, apesar das
proibições,
vêm lançar as redes durante a
noite nos canais que separam as
ilhas. As
pirogas artesanais vêm de
diferentes países da sub-região
para pescar em
particular os tubarões, cujas
barbatanas são apreciadas nos
mercados
asiáticos.
As paisagens harmoniosas e
selvagens do arquipélago atraem
promotores
turísticos muitas vezes pouco
preocupados em respeitar o meio
ambiente ou
a sociedade tradicional.
A globalização dos mercados
encoraja a
monetarização progressiva da
economia dos
Bijagós, que se orienta pouco a
pouco para
culturas comerciais como o caju
em
detrimento das zonas de
palmeiras. E já se
antevêem riscos maiores como a
exploração
petrolífera offshore ou
estaleiros de
desmantelamento de barcos velhos,
com o
seu séquito de poluições.
Rapariga bijagó: As tarefas
individuais são definidas segundo
as faixas
etárias e o sexo: os adolescentes
beneficiam de uma grande
liberdade,
enquanto que no inicío da idade
adulta dedicam o essencial da sua
energia
às necessidades da comunidade. Os
anciãos são os detentores do
saber e da
autoridade.
Nos Bijagós, povo animista, a
passagem de um grupo de idade
para outro
faz-se através de ritos de
iniciação em lugares sagrados
afastados das
tabancas (aldeias). Ao longo do
ano, quase um terço do tempo é
consagrado
a cerimónias durante as quais os
baboleros (xamãs) entram em
contacto com
os espíritos. As áreas lodosas
têm os seus espíritos, as
florestas têm os seus
espíritos, as ilhas e os mangais
também: as relações com a
natureza não são
unicamente de ordem prática e
alimentar mas também espiritual.
Por exemplo, algumas espécies de
conchas só são comidas em
cerimónias
específicas e por isso são
objecto de medidas de protecção.
Cerimónia para o Iran (espírito)
na Ilha de Poilão. No povo bijagó
só os iniciados
podem desembarcar nesta ilha e
devem respeitar regras restritas:
explorar só os
recursos que serão utilizados no
próprio sítio,não derramar
sangue,não ter realções
sexuais e não sepultar mortos. O
conjunto destas regras permite a
protecção da zona.
A relação entre o
homem e o seu meio
ambiente, entre os
vivos e os mortos,
manifesta-se pela
existência de lugares
sagrados (florestas,
cabos, ilhas) que
mostram uma
interdependência onde
a natureza e a cultura
se alimentam
mutuamente.
O modo de vida tradicional dos
Bijagós é baseado numa economia
de
subsistência onde o conjunto dos
recursos naturais do território é
aproveitado de forma
diversificada.
O arroz constitui a base da
alimentação enquanto que as
palmeiras fornecem
frutos, óleo e vinho, bem como
uma vasta gama de produtos usados
na
alimentação, artesanato,
habitação, etc.
O essencial das proteínas animais
é
fornecido pelas conchas, peixes e
animais
de capoeira.
Perto de 7 000 fêmeas desovam uma
centena de ovos por anonos
Bijagó,
constituindo assim a maior
colónia de tartarugas verdes do
litoral
atlântico africano.
Os Bijagós são a principal etnia
que povoa este arquipélago
composto por 88
lhas e ilhéus. Só habitam em
permanência cerca de 20 ilhas, em
tabancas
(aldeias) com asas de adobe e
palha. O meio ambiente é
constituído por
savanas, almeirais e mangais onde
os recursos naturais são
abundantes.
As paisagens são marcadas pela
formação do arquipélago no delta
do rio.
Jovens bijagós trajadas com saias
de palha de arroz.
As ilhas, separadas por canais,
são bordadas por zonas lodosas
que são cobertas ou descobertas
em função das marés, impondo o
seu ritmo à vida dos homens e da
natureza.
organizações nacionais e
internacionais está a decorrer um
processo para, no
quadro da Convenção do Património
Mundial da UNESCO, promover a
classificação do arquipélago dos
Bijagós como
SÍTIO DO PATRIMÓNIO
CULTURAL E
NATURAL MUNDIAL
Esta marca de prestígio, que
reconhece o valor universal de um
lugar, constitui uma garantia de
protecção internacional que
poderia
revelar-se crucial para permitir
que a
sociedade dos Bijagós e o seu
meio
ambiente conservem o seu
equilíbrio,
ao mesmo tempo que enfrentam os
desafios do desenvolvimento.
A dança ocupa um lugar central
nas cerimónias e na vida
quotidiana. Os jovens cabaros
(faixa etária dos homens entre
os 18 e os 27 anos) expressam as
forças da natureza terrestre
(máscara de touro) e marinha
(máscara de tubarão).
Braço de mar ou bolon, em maré
baixa
BIJAGÓS
ARQUIPÉLAGO
SAGRADO
A etnia bijagó ocupa as ilhas
habitadas do arquipélago. A
sociedade bijagó
rege-se por uma grande quantidade
de ritos (cem dias por ano são
consagrados a cerimónias
tradicionais) relacionados, em
grande parte, com a
vida selvagem. Por exemplo, a
ilha de Poilão, o maior local do
Atlântico-
Este para a desova das tartarugas
verdes, descoberto há apenas
alguns anos,
é um lugar sagrado onde não se
pode verter sangue, nem humano
nem
animal. Para desembarcar nesta
ilha é necessário pedir a
autorização dos
espíritos. Este tabu, muito
respeitado, permite que as
tartarugas possam
desovar dezenas de ovos sem
enfrentar qualquer predação
humana. Por outro
lado, existem ilhas onde os
animais são considerados sagrados
pela
população: por exemplo, os
hipopótamos na ilha de Orango ou
os tubarões
na ilha Formosa. Os Bijagós são
também conhecidos pelas suas
esculturas,
consideradas como das mais
interessantes de África.
Tabanka bijagó: as aldeias
bijagós estão sempre cercadas de
árvores e afastadas da costa.
BIJAGÓS
ARQUIPÉLAGO
COBIÇADO
Perdidas no esquecimento há 40
anos, as ilhas nunca foram
atingidas pelo
desenvolvimento colonial, com
excepção de dois portos muito
modestos,
Bubaque e Bolama, outrora capital
da Guiné-Bissau. Não sendo
marinheiros,
os Bijagós estabelecem-se em
aldeias no interior das terras;
vivem da
colheita, duma agricultura muito
primitiva e da pesca praticada
andando a
pé. Os bancos de areia e os
labirintos de canais onde a
navegação é difícil
travaram até agora o
desenvolvimento da pesca
comercial. Mas o
esgotamento geral das reservas de
peixe na costa africana alimenta
cobiças
e os pescadores do Senegal e da
Guiné-Conacri, entre outros,
começam a
explorar cada vez mais estes
locais, incrivelmente ricos em
peixe, ao ponto
de criar por vezes aldeias
costeiras.
O hipopótamo ocupa um lugar
sagradao na cosmogonia bijagó.
BIJAGÓS
PATRIMÓNIO
A PRESERVAR
O arquipélago está ameaçado. Os
perigos aumentam devido à
exploração
excessiva das zonas de reprodução
de peixe e, mais recentemente,
devido a
projectos anárquicos de
desenvolvimento turístico. Três
ONG, a Tiniguena -
esta terra é nossa, a UICN (União
Internacional para a Conservação
da
Natureza) e a FIBA (Fundação
Internacional do Banc d’Arguin),
trabalham
no arquipélago, em colaboração
com as tabancas (aldeias)
bijagós, para
combater esses perigos. Cada
proposta é apresentada à
assembleia dos
régulos e à população. Os seus
objectivos são a educação, a
prevenção
sanitária, a defesa do meio
ambiente e a gestão dos recursos
naturais, para
assegurar o desenvolvimento
durável deste arquipélago único e
ajudar os
Bijagós a assegurar o seu futuro
no respeito pelos seus costumes e
pelo meio
ambiente.
BIJAGÓS
ARQUIPÉLAGO ESQUECIDO
Ao largo da Guiné-Bissau, o
arquipélago dos Bijagós é um
conjunto de 88
ilhas e ilhéus perdidos no
Atlântico. Um quarto das ilhas
não é habitado. As
ilhas são cobertas de vegetação
tropical: florestas húmidas,
mangais e
savanas. As suas águas são das
mais ricas em peixe de África.
Abrigam
também uma fauna original:
hipopótamos – por vezes
qualificados como
marinhos porque são os únicos no
mundo a viverem em água salgada –
tartarugas, golfinhos, manatins,
répteis e aves. Um milhão de aves
limícolas,
aves pernaltas que emigram para a
tundra, passam o inverno nos
Bijagós,
assim como flamingos, pelicanos,
garças, garajaus, etc. Mas muitas
das suas
riquezas naturais ainda não são
conhecidas. A criação de dois
parques
nacionais e de uma Reserva da
Biosfera (no quadro do projecto
Man and
Biosphere da UNESCO) ilustram
este interesse fora do comum.
Repartição das responsabilidades
e das funções
das diferentes classes etárias
Idade Classe etária Nome
Bijagó
Características principais
e responsabilidades
Homens
7-11 Crianças Cadene Guarda do
gado e ajuda na caça.
12-17 Adolescentes Canhocám
Participação nas actividades
produtivas. Subir às palmeiras,
artesanato e
iniciação às regras sociais
(segredos das plantas).
Guarda da aldeia.
18-27 Jovens Cabaro Período de
liberdade, festas, danças e
conquistas amorosas. Algum
trabalho regular (limpar os
caminhos da aldeia e participar
em todos os
trabalhos que exigem boa condição
física e capacidades), apoio às
actividades agrícolas e à
produção do óleo de palma.
28-35 Jovens adultos Camabi
Período depois da iniciação
(fanado) dedicado aos trabalhos
mais duros e
à procura dos bens necessários
para o pagamento aos mais velhos,
aprendendo com estes os segredos
da vida.
Administram os palmares, as
florestas e as cambuas.
36-55 Adultos Odõdo Quando passam
do estádio de iniciado ao de
iniciador. Têm plenos
direitos no conselho dos mais
velhos, servem de porta-voz das
resoluções
deste conselho de decisão. Podem
possuir casa e terras e têm
direito a
casar e a ter filhos.
Mais de
55
Homens idosos
Homem grande
Cabongha Recebem ofertas dos mais
jovens. Guardiões dos
conhecimentos e das
regras sócio-culturais
tradicionais.
Mulheres
7-11 Crianças Numpune Trabalhos
domésticos, transporte da água,
apanha de pequenos moluscos
e vigilância dos arrozais.
12-20 Adolescentes Campuni Grupo
etário responsável pelas
cerimónias de defunto. Fora da
aldeia as
mulheres comem, bebem e dançam
juntas e aprendem as técnicas e
saberes para viver na floresta.
21-50 Mulheres casadas Ocanto
Mulheres com crianças para
educar.
Mais de
50
Mulheres idosas
Mulher grande
Oconto Depois da menopausa
controlam as cerimónias das
mulheres.
ASSUNTO: Arquipélago dos Bijagós
(Guiné-Bissau) Reservados os
Direitos do Autor
Edição: Paulo Alves
www.Rituais.com
Textos e Legendas: PRCM (Programa
Regional de Conservação da Zona
Costeira e Marinha da África
Ocidental), FIBA (Fundação
Internacional do Banc d’Arguin),
UICN (União Mundial para a
Natureza),
INEP (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisa), GPC
(Gabinete de Planificação
Costeira da Guiné-
Bissau), Comité MAB (Man and
Biosphere) de França, Reserva de
Biosfera do Arquipélago dos
Bijagós (tutelada actualmente
pelo Instituto da Biodiversidade
e das Áreas Protegidas da
Guiné-Bissau -
IBAP) e Tiniguena (“Esta Terra é
Nossa”) – ONG nacional da
Guiné-Bissau
Imagens: Jean François Hellio e
Nicolas Van Ingen
(Hellio-Van-Ingen)
Colaboração: Joacine Moreira
(CIDAC)
19-05-06 Pág. 5
O modo de vida, os costumes
tradicionais e o carácter sagrado
de alguns
locais explicam o estado de
conservação excepcional do meio
ambiente. O
arquipélago constitui por essa
razão um dos principais locais de
reprodução
dos recursos haliêuticos do país,
representando a pesca um pilar da
economia nacional. O meio marinho
é um verdadeiro reservatório de
diversidade biológica de
importância internacional: ilhéus
ocupados por
colónias de aves marinhas; praias
utilizadas por milhares de
tartarugas
marinhas para a desova; áreas
lodosas frequentadas por mais de
700 000
aves pernaltas migratórias;
mangais povoados de manatins e
lontras;
hipopótamos transformados pelo
tempo em animais marinhos;
crocodilos;
canais habitados por golfinhos.
Os fuselos reproduzem-se na
Europa e migram para África,
acabando por ser um
laço entre estes dois continentes
É por reconhecer o valor
deste património que o
arquipélago foi
classificado pela
UNESCO como
Reserva da Biosfera.
Costeira e Marinha da África
Ocidental), FIBA (Fundação
Internacional do Banc d’Arguin),
UICN (União Mundial para a
Natureza),
INEP (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisa), GPC
(Gabinete de Bijagós (tutelada
actualmente pelo Instituto da
Biodiversidade e das Desde há
alguns anos que numerosas
influências exteriores interferem
com
este equilíbrio secular. O
arquipélago, outrora fechado
sobre o seu mistério,
é hoje sujeito a muitas cobiças.
Os seus recursos naturais, ainda
abundantes,
atraem a pesca industrial da
Europa e da Ásia que, apesar das
proibições,
vêm lançar as redes durante a
noite nos canais que separam as
ilhas. As
pirogas artesanais vêm de
diferentes países da sub-região
para pescar em
particular os tubarões, cujas
barbatanas são apreciadas nos
mercados
asiáticos.
As paisagens harmoniosas e
selvagens do arquipélago atraem
promotores
turísticos muitas vezes pouco
preocupados em respeitar o meio
ambiente ou
a sociedade tradicional.
A globalização dos mercados
encoraja a
monetarização progressiva da
economia dos
Bijagós, que se orienta pouco a
pouco para
culturas comerciais como o caju
em
detrimento das zonas de
palmeiras. E já se
antevêem riscos maiores como a
exploração
petrolífera offshore ou
estaleiros de
desmantelamento de barcos velhos,
com o
seu séquito de poluições.
Rapariga bijagó: As tarefas
individuais são definidas segundo
as faixas
etárias e o sexo: os adolescentes
beneficiam de uma grande
liberdade,
enquanto que no inicío da idade
adulta dedicam o essencial da sua
energia
às necessidades da comunidade. Os
anciãos são os detentores do
saber e da
autoridade.
Nos Bijagós, povo animista, a
passagem de um grupo de idade
para outro
faz-se através de ritos de
iniciação em lugares sagrados
afastados das
tabancas (aldeias). Ao longo do
ano, quase um terço do tempo é
consagrado
a cerimónias durante as quais os
baboleros (xamãs) entram em
contacto com
os espíritos. As áreas lodosas
têm os seus espíritos, as
florestas têm os seus
espíritos, as ilhas e os mangais
também: as relações com a
natureza não são
unicamente de ordem prática e
alimentar mas também espiritual.
Por exemplo, algumas espécies de
conchas só são comidas em
cerimónias
específicas e por isso são
objecto de medidas de protecção.
Cerimónia para o Iran (espírito)
na Ilha de Poilão. No povo bijagó
só os iniciados
podem desembarcar nesta ilha e
devem respeitar regras restritas:
explorar só os
recursos que serão utilizados no
próprio sítio,não derramar
sangue,não ter realções
sexuais e não sepultar mortos. O
conjunto destas regras permite a
protecção da zona.
A relação entre o
homem e o seu meio
ambiente, entre os
vivos e os mortos,
manifesta-se pela
existência de lugares
sagrados (florestas,
cabos, ilhas) que
mostram uma
interdependência onde
a natureza e a cultura
se alimentam
mutuamente.
O modo de vida tradicional dos
Bijagós é baseado numa economia
de
subsistência onde o conjunto dos
recursos naturais do território é
aproveitado de forma
diversificada.
O arroz constitui a base da
alimentação enquanto que as
palmeiras fornecem
frutos, óleo e vinho, bem como
uma vasta gama de produtos usados
na
alimentação, artesanato,
habitação, etc.
O essencial das proteínas animais
é
fornecido pelas conchas, peixes e
animais
de capoeira.
Perto de 7 000 fêmeas desovam uma
centena de ovos por anonos
Bijagó,
constituindo assim a maior
colónia de tartarugas verdes do
litoral
atlântico africano.
Os Bijagós são a principal etnia
que povoa este arquipélago
composto por 88
lhas e ilhéus. Só habitam em
permanência cerca de 20 ilhas, em
tabancas
(aldeias) com asas de adobe e
palha. O meio ambiente é
constituído por
savanas, almeirais e mangais onde
os recursos naturais são
abundantes.
As paisagens são marcadas pela
formação do arquipélago no delta
do rio.
Jovens bijagós trajadas com saias
de palha de arroz.
As ilhas, separadas por canais,
são bordadas por zonas lodosas
que são cobertas ou descobertas
em função das marés, impondo o
seu ritmo à vida dos homens e da
natureza.
organizações nacionais e
internacionais está a decorrer um
processo para, no
quadro da Convenção do Património
Mundial da UNESCO, promover a
classificação do arquipélago dos
Bijagós como
SÍTIO DO PATRIMÓNIO
CULTURAL E
NATURAL MUNDIAL
Esta marca de prestígio, que
reconhece o valor universal de um
lugar, constitui uma garantia de
protecção internacional que
poderia
revelar-se crucial para permitir
que a
sociedade dos Bijagós e o seu
meio
ambiente conservem o seu
equilíbrio,
ao mesmo tempo que enfrentam os
desafios do desenvolvimento.
A dança ocupa um lugar central
nas cerimónias e na vida
quotidiana. Os jovens cabaros
(faixa etária dos homens entre
os 18 e os 27 anos) expressam as
forças da natureza terrestre
(máscara de touro) e marinha
(máscara de tubarão).
Braço de mar ou bolon, em maré
baixa
BIJAGÓS
ARQUIPÉLAGO
SAGRADO
A etnia bijagó ocupa as ilhas
habitadas do arquipélago. A
sociedade bijagó
rege-se por uma grande quantidade
de ritos (cem dias por ano são
consagrados a cerimónias
tradicionais) relacionados, em
grande parte, com a
vida selvagem. Por exemplo, a
ilha de Poilão, o maior local do
Atlântico-
Este para a desova das tartarugas
verdes, descoberto há apenas
alguns anos,
é um lugar sagrado onde não se
pode verter sangue, nem humano
nem
animal. Para desembarcar nesta
ilha é necessário pedir a
autorização dos
espíritos. Este tabu, muito
respeitado, permite que as
tartarugas possam
desovar dezenas de ovos sem
enfrentar qualquer predação
humana. Por outro
lado, existem ilhas onde os
animais são considerados sagrados
pela
população: por exemplo, os
hipopótamos na ilha de Orango ou
os tubarões
na ilha Formosa. Os Bijagós são
também conhecidos pelas suas
esculturas,
consideradas como das mais
interessantes de África.
Tabanka bijagó: as aldeias
bijagós estão sempre cercadas de
árvores e afastadas da costa.
BIJAGÓS
ARQUIPÉLAGO
COBIÇADO
Perdidas no esquecimento há 40
anos, as ilhas nunca foram
atingidas pelo
desenvolvimento colonial, com
excepção de dois portos muito
modestos,
Bubaque e Bolama, outrora capital
da Guiné-Bissau. Não sendo
marinheiros,
os Bijagós estabelecem-se em
aldeias no interior das terras;
vivem da
colheita, duma agricultura muito
primitiva e da pesca praticada
andando a
pé. Os bancos de areia e os
labirintos de canais onde a
navegação é difícil
travaram até agora o
desenvolvimento da pesca
comercial. Mas o
esgotamento geral das reservas de
peixe na costa africana alimenta
cobiças
e os pescadores do Senegal e da
Guiné-Conacri, entre outros,
começam a
explorar cada vez mais estes
locais, incrivelmente ricos em
peixe, ao ponto
de criar por vezes aldeias
costeiras.
O hipopótamo ocupa um lugar
sagradao na cosmogonia bijagó.
BIJAGÓS
PATRIMÓNIO
A PRESERVAR
O arquipélago está ameaçado. Os
perigos aumentam devido à
exploração
excessiva das zonas de reprodução
de peixe e, mais recentemente,
devido a
projectos anárquicos de
desenvolvimento turístico. Três
ONG, a Tiniguena -
esta terra é nossa, a UICN (União
Internacional para a Conservação
da
Natureza) e a FIBA (Fundação
Internacional do Banc d’Arguin),
trabalham
no arquipélago, em colaboração
com as tabancas (aldeias)
bijagós, para
combater esses perigos. Cada
proposta é apresentada à
assembleia dos
régulos e à população. Os seus
objectivos são a educação, a
prevenção
sanitária, a defesa do meio
ambiente e a gestão dos recursos
naturais, para
assegurar o desenvolvimento
durável deste arquipélago único e
ajudar os
Bijagós a assegurar o seu futuro
no respeito pelos seus costumes e
pelo meio
ambiente.
BIJAGÓS
ARQUIPÉLAGO ESQUECIDO
Ao largo da Guiné-Bissau, o
arquipélago dos Bijagós é um
conjunto de 88
ilhas e ilhéus perdidos no
Atlântico. Um quarto das ilhas
não é habitado. As
ilhas são cobertas de vegetação
tropical: florestas húmidas,
mangais e
savanas. As suas águas são das
mais ricas em peixe de África.
Abrigam
também uma fauna original:
hipopótamos – por vezes
qualificados como
marinhos porque são os únicos no
mundo a viverem em água salgada –
tartarugas, golfinhos, manatins,
répteis e aves. Um milhão de aves
limícolas,
aves pernaltas que emigram para a
tundra, passam o inverno nos
Bijagós,
assim como flamingos, pelicanos,
garças, garajaus, etc. Mas muitas
das suas
riquezas naturais ainda não são
conhecidas. A criação de dois
parques
nacionais e de uma Reserva da
Biosfera (no quadro do projecto
Man and
Biosphere da UNESCO) ilustram
este interesse fora do comum.
Repartição das responsabilidades
e das funções
das diferentes classes etárias
Idade Classe etária Nome
Bijagó
Características principais
e responsabilidades
Homens
7-11 Crianças Cadene Guarda do
gado e ajuda na caça.
12-17 Adolescentes Canhocám
Participação nas actividades
produtivas. Subir às palmeiras,
artesanato e
iniciação às regras sociais
(segredos das plantas).
Guarda da aldeia.
18-27 Jovens Cabaro Período de
liberdade, festas, danças e
conquistas amorosas. Algum
trabalho regular (limpar os
caminhos da aldeia e participar
em todos os
trabalhos que exigem boa condição
física e capacidades), apoio às
actividades agrícolas e à
produção do óleo de palma.
28-35 Jovens adultos Camabi
Período depois da iniciação
(fanado) dedicado aos trabalhos
mais duros e
à procura dos bens necessários
para o pagamento aos mais velhos,
aprendendo com estes os segredos
da vida.
Administram os palmares, as
florestas e as cambuas.
36-55 Adultos Odõdo Quando passam
do estádio de iniciado ao de
iniciador. Têm plenos
direitos no conselho dos mais
velhos, servem de porta-voz das
resoluções
deste conselho de decisão. Podem
possuir casa e terras e têm
direito a
casar e a ter filhos.
Mais de
55
Homens idosos
Homem grande
Cabongha Recebem ofertas dos mais
jovens. Guardiões dos
conhecimentos e das
regras sócio-culturais
tradicionais.
Mulheres
7-11 Crianças Numpune Trabalhos
domésticos, transporte da água,
apanha de pequenos moluscos
e vigilância dos arrozais.
12-20 Adolescentes Campuni Grupo
etário responsável pelas
cerimónias de defunto. Fora da
aldeia as
mulheres comem, bebem e dançam
juntas e aprendem as técnicas e
saberes para viver na floresta.
21-50 Mulheres casadas Ocanto
Mulheres com crianças para
educar.
Mais de
50
Mulheres idosas
Mulher grande
Oconto Depois da menopausa
controlam as cerimónias das
mulheres.
ASSUNTO: Arquipélago dos Bijagós
(Guiné-Bissau) Reservados os
Direitos do Autor
Edição: Paulo Alves
www.Rituais.com
Textos e Legendas: PRCM (Programa
Regional de Conservação da Zona
Costeira e Marinha da África
Ocidental), FIBA (Fundação
Internacional do Banc d’Arguin),
UICN (União Mundial para a
Natureza),
INEP (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisa), GPC
(Gabinete de Planificação
Costeira da Guiné-
Bissau), Comité MAB (Man and
Biosphere) de França, Reserva de
Biosfera do Arquipélago dos
Bijagós (tutelada actualmente
pelo Instituto da Biodiversidade
e das Áreas Protegidas da
Guiné-Bissau -
IBAP) e Tiniguena (“Esta Terra é
Nossa”) – ONG nacional da
Guiné-Bissau
Imagens: Jean François Hellio e
Nicolas Van Ingen
(Hellio-Van-Ingen)
Colaboração: Joacine Moreira
(CIDAC)
19-05-06 Pág. 5
Marcadores:
Arquipélago dos Bijagós,
Guiné Bissau
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