(Pel Caç Nat 60 )

terça-feira, 22 de junho de 2010

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P77: O Ultimo Adeus Dum Combatente

O Ultimo Adeus Dum Combatente






Naquela tarde em que eu parti e

tu ficaste



sentimos, fundo, os dois a mágoa

da saudade.



Por ver-te as lágrimas sangrarem

de verdade



sofri na alma um amargor quando

choraste.







Ao despedir-me eu trouxe a dor

que tu levaste!



Nem só o teu amor me traz a

felicidade.



Quando parti foi por amar a

Humanidade



Sim! foi por isso que eu parti e

tu ficaste!







Mas se pensares que eu não parti

e a mim te deste



será a dor e a tristeza de

perder-me



unicamente um pesadelo que

tiveste.







Mas se jamais do teu amor posso

esquecer-me



e se fui eu aquele a quem tu mais

quiseste



que eu conserve em ti a esperança

de rever-me!


Vasco Cabral

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P76: (Sagrada esperança)

A quitandeira, poesia de Agostinho Neto

--------------------------------------------------------------------------------

Quitandeira
Agostinho Neto

A quitanda.
Muito sol
e a quitandeira à sombra
da mulemba.

- Laranja, minha senhora,
laranjinha boa!

A luz brinca na cidade
o seu quente jogo
de claros e escuros
e a vida brinca
em corações aflitos
o jogo da cabra-cega.

A quitandeira
que vende fruta
vende-se.

- Minha senhora
laranja, laranjinha boa!

Compra laranja doces
compra-me também o amargo
desta tortura
da vida sem vida.

Compra-me a infância do espírito
este botão de rosa
que não abriu
princípio impelido ainda para um início.

Laranja, minha senhora!

Esgotaram-se os sorrisos
com que chorava
eu já não choro.

E aí vão as minhas esperanças
como foi o sangue dos meus filhos
amassado no pó das estradas
enterrado nas roças
e o meu suor
embebido nos fios de algodão
que me cobrem.

Como o esforço foi oferecido
à segurança das máquinas
à beleza das ruas asfaltadas
de prédios de vários andares
à comodidade de senhores ricos
à alegria dispersa por cidades
e eu
me fui confundindo
com os próprios problemas da existência.

Aí vão as laranjas
como eu me ofereci ao álcool
para me anestesiar
e me entreguei às religiões
para me insensibilizar
e me atordoei para viver.

Tudo tenho dado.

Até mesmo a minha dor
e a poesia dos meus seios nus
entreguei-as aos poetas.

Agora vendo-me eu própria.
- Compra laranjas
minha senhora!
Leva-me para as quitandas da Vida
o meu preço é único:
- sangue.

Talvez vendendo-me
eu me possua.

- Compra laranjas!

(Sagrada esperança)

_